domingo, 9 de setembro de 2012

Ponzi e Poyais

A Folha de S. Paulo trouxe esta semana dois ensaios sobre livros focando golpistas: no dia 3, tradução de Diana B. Henriques do New York Times sobre "The Ponzi Scheme Puzzle: A History and Analysis of Con Artists and Victims" de Tamar Frankel. Diana é ela mesma autora de "The Wizard of Lies: Bernie Madoff and the Death of Trust". Ontem dia 8 Helton Simões Gomes escreveu sobre o livro "Golpes Bilionários" de Kari Nars, obra já disponível no português pela editora Gutenberg.

Os dois textos trazem lições para os que acompanham as acusações do caso Colina do Sol, e as fraudes financeiras que as falsas acusações de pedofilia foram feitas para encobrir.

Henriques faz umas perguntas para Frankel, e conforme o ensaio, " A professora Frankel, uma acadêmica de direito, fala sobre a mentalidade dos estelionatários, assim como o papel que as vítimas e a sociedade exercem":

 

P. Você acha que hoje compreende melhor os esquemas de fraude chamados de "Ponzi schemes"?
R. Entendo melhor especialmente o impacto da cultura — uma cultura de assumir riscos, a esperança de ganhar dinheiro, um apetite insaciável por mais.

P. Mas não é tão simples, é? Algumas vítimas de Bernard Madoff sentem que justificadamente depositaram sua confiança em um veterano do mercado. Então, onde está a linha entre confiança justificada e credulidade irracional?
R. Como eu noto no meu livro, muitos vigaristas fazem parecer que limitam o acesso a seus investimentos, disponibilizando-os apenas para alguns escolhidos. Mas, racionalmente, por que um administrador de dinheiro faria isso? Olhe ao redor e verá fundos hedge, fundos mútuos, fundos de capitais privados e assessores, todos salivando para conseguir mais clientes. No entanto, há aqueles que acreditam que quanto mais difícil for entrar em um investimento, mais valioso ele é. Isso é credulidade.

P. Madoff não prometeu retornos estratosféricos — ele apenas ofereceu uma consistência estável. A senhora não acha que os futuros fraudadores vão tirar uma lição do roteiro de Madoff?
R.Eu duvido. As pessoas estão mais preocupadas com os riscos do que estavam antes da crise. Mas os fraudadores não adaptam suas histórias à cultura atual e ao sentimento público, eles sobretudo se concentram em seu público-alvo.

 

O livro de Nars fala de outros fraudes, como Victor Lustig, que em 1925 vendeu o Torre Eiffel para ferros velhos, e do general escocês Gregor MacGregor, que casou-se com uma sobrinha de Simon Bolivar, e na década de 1820 inventou o estado fantasma de Poyais no Caribe. Conforme um site sobre o Clan MacGregor:

 

Gregor MacGregor, Príncipe de Poyais
Seu plano para ganhar dinheiro com o seu "reino" teve duas abordagens diferentes. Um era para levantar capital de £ 200.000 (milhões de dólares em dinheiro de hoje) mediante a emissão de 2.000 títulos ao portador em £ 100 cada, o outro para vender terrenos e comissões em Poyais. Nisso, ele foi ajudado por uma campanha de marketing habilidoso e sem vergonha promover as virtudes do que um marqueteiro chamado 'este insuperável Utopia'.

[...]

Muitas pessoas mais pobres, que não tinham condições de comprar os títulos caros, compraram pequenas parcelas de terra ou se inscreveu como sapateiros, comerciantes, joalheiros, professores e funcionários ou outros artesãos, todos com habilidades aparentemente em grande demanda no estado em rápido expansão econômico.

[...]

Tal foi o sucesso da promoção, de que pelo menos uma balada foi cantada em louvor a MacGregor, livros e panfletos exaltaram os méritos desta esplêndida nação nova e um público animado clamavam para investir neste país irresistível liderada pelo seu carismático e heróico Príncipe. [...] A grande nação próspera de Poyais tinha sido tudo uma ilusão bem lavrada, uma fraude cruel cometido em trabalhadores e trabalhadoras, que se atreveram a esperança de uma vida melhor na América.

[...]

Como MacGregor esperava se safar uma vez alguém chegou no seu "paraíso" não é clara. Possivelmente ele tinha planejado fazer uma fuga com seus milhões, mas foi errou a hora de partida. Talvez ele tivesse começado a acreditar na sua própria propaganda que tal lugar existiu. Incrivelmente, MacGregor no começo tentou blefar, , culpando a colônia de Belize por interferir e até mesmo para o roubo de pertences Poyaisian, e ele tentou levantar ainda mais dinheiro com a re-emissão dos títulos.

[...]

Por alguns anos ele viveu em Edimburgo, tentando em vão vender lotes num reino que não existia, em terras que ele não possuía.

 

A resenha da Folha informa uma das saídas de MacGregor: "Depois de os 'colonos' reclamarem seus investimentos, informou estar de mãos atadas: Poyais havia se tornado um Estado independente."

Os tempos mudam. O sonhos ficaram mais maneiras. Ponzi ofereceu retornos impossivelmente altos, e oito décadas depois, Madoff ofereceu retornos um pouco elevados, e impossivelmente consistentes. Não se mas canta baladas em louvor; faz-se reportagens de televisão. Poyais era uma nação, algo em que ninguém acreditaria hoje, mas encontra-se os que engolem "uma pequena cidade ... entidade com autonomia política". Os sonhos de hoje são mais pedestres: foram-se os países e príncipes, entraram os presidentes e federações.

A Folha termina: "Para ilustrar o fim dos fraudadores, Nars parafraseia o ex-presidente americano Abrahan Lincoln: é impossível enganar todo mundo para sempre. O que não é preciso, pois, segundo mostram as histórias, basta enganar as pessoas certas por algum tempo."

Nenhum comentário:

Postar um comentário