domingo, 28 de agosto de 2011

Os registros do orfanato

Há quatro "versões" dos passeios que Dr. André Herdy e sua então mulher Cleci fizerem como parte da programa "Familia Acolhedora" do orfanato Apromin. A versão de André e Cleci; a versão documentada nos registros de Apromim; a versão do Moleque que Mente®; e a versão da jovem Cisne.

Para relembrar, é padrão nestes casos alegar abuso, como uma riqueza de detalhes, e quando o acusado comprove com documentos e testemunhas objetivas de que todos as afirmações que poderiam ser verificadas são falsas, a resposta é, "Bem, deveria ter sido alguma outra data, pois criança não mente sobre abuso." No caso Colina do Sol, foi bastante limitada a convivência de André e Cleci com o uníco acusador, O Moleque que Mente®, que permite comprovar não somente que os detalhes verificáveis são falsos, mas que não houve "outra data" em que poderia ter acontecido. Tudo é mentira, mesmo.

Nos já contamos do primeiro passeio, em , quando O Moleque que Mente® foi levado para o Pizza Palace em Sapiranga para celebrar seu aniversário, visito a Colina do Sol pela primeira e única vez, e foi para o churrasco de Dia dos Pais na casa dos pais de Cleci; o segundo passeio em que visitou Novo Hamburgo, experimentou a peruca roxa, e conheceu ; e o relato de Cleci do terceiro passeio. O que André e Cleci falam é apoiado com o que está nos documentos de Apromin. As versões das supostas vítimas são inconsistentes uma com outra, e inconsistentes com os documentos.

O orfanato fazia um "Termo de Responsabilidade" quando uma criança foi retirada do orfanato. Há no processo para as crianças e datas seguintes:

  • O Moleque que Mente® em 10/08/07 (primeira visita);
  • Noruéga em 24/08/07;
  • Os gêmeos em 31/08/07;
  • O Moleque que Mente® em 14/09/07 (segunda visita);
  • O Moleque que Mente® e [seu irmão] em 28/09/07 (terceira visita);
  • O Moleque que Mente®, Noruega e Cisne em 26/10/07, e a anotação à mão: "[Os gêmeos] foram no domingo 28/10/07 c/Cleci". (quarta visita);
  • Os gêmeos em 11/10/07 e 09/11/07.

A anotação sobre a quarta visita

Chama atenção a anotação sobre a quarta visita: de que Cleci retirou os gêmeos no domingo 28/07.

Conforme o memorando que André fez na cadeia:

Noruega voltou para a Apromin no domingo às 8:00 da manhã pois havia estado muito chorão o sábado todo e os gêmeos só vieram neste mesmo horário portanto não houve ocasião onde os gêmeos e o Noruega estivessem juntos na minha casa. (fls. 28)

O registro do orfanato, porém, não nota o horário. Também, não há anotação da devolução de Noruega, ou pelo menos, não que eu vi. Mas a distância de Morro da Pedra para Taquara é grande, e a estrada é ruim. Leva meia hora. Não é uma viagem que se faria várias vezes num dia, se for possível evitar.

O reunião sobre naturismo

Houve, também, uma reunião entre as assistentes sociais do orfanato, e Dr. André e Cleci, sobre o assunto de naturismo. Dr. André, como presidente da Federação Brasileira de Naturismo, poderia ter se sentido com a obrigação de defender o naturismo contra qualquer coisa que percebia como um afronto a validade desta "filosofia". Com certeza, já entrou em atrito com a corja da Colina do Sol, e com os abundantes praticantes do swing (é inglês para "adultério habitual" ou "troca de casais") que se utilizam do naturismo como camuflagem.

No outro lado, os bons burocratas sempre se resguardam com memorandos "CYA" (de novo inglês, para "cobrir sua bunda", quer dizer, ter uma defesa contra problemas futuras. Ainda, muito gente entre no ramo de trabalhar com crianças porque são mandonas, e gostam de lidar com pessoas pequenas que precisam seguir ordens. De novo há um termo no inglês, "tin god".

Dr. André conta do conteúdo da reunião:

 
5 setembro 2007

Constata exatamente a conversa realizada e o acordo que foi cumprido de que não levaríamos mais crianças para a Colina do Sol. Mas poderíamos continuar levando para os finais de semana em NH. (fls. 3)

Vale ressaltar que a primeira vez que eu (André) conversei com a Cláudia e Adriano foi após receber a carta sobre a reunião do dia 15/08/07... (fls. 7). Está clara a data da conversa entre eu e a assistente social. Nem foi dia 22 ou dia 29 e sim dia 05/09!!! (fls. 18) Cumprindo o que combinamos neste dia (05/09) nunca mais levamos crianças da Apromin para a Colina do Sol. (fls. 37)

A própria Cláudia [de Cristo], o psicólogo Adriano, a irmã Natalina e outros da Apromin nos alertaram neste dia 05/09 que a maioria absoluta das crianças ali abrigadas eram frutos de abuso sexual. Destacaram que o próprio Moleque® e seus 5 irmãos e irmãs sofreram abuso por parte de parentes próximos. O Moleque® já havia contado que os irmãos dele sofriam abuso (ele usou as palavras “faziam coisas feias com eles) portanto ele sabe o que é ser abusado sexualmente.

Neste documento a Cláudia acaba por afirmar que as visitas poderiam continuar pois ela entendia que eram saudáveis. (fls. 38)

 

Apromim também tem sua versão, recontada num memorando de uma reunião interna do dia 8 de agosto; outra reunião, esta vez com André e Cleci, em 5 de setembro; e uma carta desta data para a juíza da 2ª Vara, Dra. Ângela Martini. Estas não estão entre os documentos públicos, mas tenho anotações feitas quando tive aceso aos documentos (como jornalista, posso preservar meus fontes), e reproduzo aqui minhas anotações, com o cuidado de sempre de mudar os nomes dos menores:

Há nas fls 329, anotações "Reunião Rede 15.08.07", do qual somente parte tem a ver com André e Cleci:

"Reunião da Equipe Técnica da APROMIN"

item 5 de 6: "Define se fica suspensa as visitas de Crianças ao casal Cleci e André em virtude de que as mesmas possuem vivência que inferência não ser saudável o contato com a realidade Naturista."

Depois, há o memorando da reunião de dia 05 de setembro, nas fls. 330:

 
No parte de tarde em atendimento com André, familia acolhedora, fica definido que esta irá pegar sempre que for passar finais de semana em Novo Hamburgo. Coloque-se que o Sr. André e/ou Cleci faria contato prévio. Fica esclarecida que o concluído na reunião da Equipe Técnica e que consta no encaminhamento entregue ao Sr. André está voltando a "preocupação da Equipe no que tange ao choque cultural que pode vir a causar às crianças devido a peculiaridade das situações já vivenciadas por estas (pelas mesmas/crianças). Acerta-se que André irá informar o equipe que irá pegar crianças em finais de semanas em que estivessem em Novo Hamburgo. O conteúdo desta reunião irá ser repassada a Equipe Técnica já que anteriormente o combinado foi que as visitas seriam cessadas."
 

fls 310-311, ofício 279/07, 05/09/2007, Cláudia de Cristo para Dra. Angela Martini:

Que André e Cleci os procurou no 8 de agosto; que orientou para não expor crianças a naturismo que pode ser "um choque cultural bastante significativa". Depois levaram o Moleque® [10 à 12 agosto], no final de semana seguinte Noruega, e na última, os gêmeos.
"Não houve nenhuma comentário do Moleque® no sentido de ter convivido naquele fim de semana com pessoas praticando naturismo junto dele."

Para esta última afirmação, vamos voltar no futuro.

Verificação?

As prisões aconteceram em 14/12/2007, uns seis semanas depois desta visita de 28/10. Seis semanas não é demais para pessoas lembrarem de acontecimentos; de registros de companhia telefônicas guardarem onde estavam os aparelhos; de pessoas vistos casualmente no percurso, lembrarem da ocasião.

Mas Dr. André e Cleci estavam presos por 13 meses, depois do qual tudo isso não foi mais possível.

A polícia, sim, poderia ter tentado verificar os fatos, mas já na dia das prisões, examinaram os computadores, e constaram de que não tinha pornografia nenhuma.

Sabiam, então, que não haveria fatos de verificar. Uma levantamento dos fatos, desmentiria a versão d'O Moleque que Mente®. Evitava-se, então, qualquer apuração.

Ainda, há fotos no micro e talvez na máquina fotográfica de Dr. André que documentaria tudo que ele falou dos passeios com O Moleque que Mente®. Mas somente a polícia tinha acesso a estes fotos.

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