Comarca
de Taquara
2ª
Vara
Rua
Ernesto Alves, 1750 - CEP: 95600000 Fone: 51-3542-1933
___________________________________________________________________
TERMO
DE DEGRAVAÇÃO
Processo
nº:
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070/2.08.0000272-8
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Natureza:
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Crimes
contra a Administração da Justiça
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Autor:
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Justiça
Pública
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Réu:
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Isaías
Moreira
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Data
da Audiência:
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24/07/2008
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2ª Vara Judicial
Espécie de Audiência:
Interrogatório
Data: 24/07/08 às 15:00
horas
Processo:
070/2.08.0000272-8 Crimes Contra a Administração da Justiça
Autor: Justiça Pública
Réu: Isaías Moreira
Juíza de Direito: Angela
Martini
Interrogando: Isaías
Moreira, brasileiro, convivente, 38 anos, biscate. Residente no Morro
da Pedra, Taquara. Lida na íntegra a denúncia. Cientificado de seus
direitos constitucionais. Oportunizado entrevistar-se com Defensor, o
que efetivamente ocorreu. Perguntado, respondeu:
Juíza: Lida a denúncia.
O que tu tens a dizer com relação a essa acusação?
Interrogando: Isso é uma
injustiça que estão fazendo. Porque na verdade eu não ia sair
daqui pra fazer uma denúncia lá e mentir, porque a única coisa que
eu não gosto é de entrar numa desse tipo assim, delegacia, nunca
gostei, eu não ia sair daqui pra ir lá mentir. Eu fui falar a
verdade.
Juíza: O Oziel e o
L.A.M. são teus filhos?
Interrogando: São.
Juíza: Quando eles
foram ouvidos na polícia, lá no processo quem envolve o Frederick e
a Bárbara, tu estavas com eles?
Interrogando: Sim.
Juíza: O que tu viste
durante a inquirição deles, eles foram bem tratados? Eles não
foram?
Interrogando: No começo
mais ou menos, daqui a pouco eles começaram a agitar muito os piás.
Juíza: Que tipo de
agitação?
Interrogando: Agitação
assim, chegar, falar com os piás ”responde rapaz”. E (...) daí
os policial respondiam pra eles, eles faziam as perguntas pra eles,
os piás diziam, perguntavam “o fulano abusou contigo”?
Perguntavam pro L.A.M. “alguém mexeu no teu tico, fez isso, fez
isso”. Não, nunca fez, e daí daqui a pouco eles davam virada nas
costas, batiam na mesa, davam chute nas cadeiras. E daí um parava de
fazer uma pergunta o outro vinha de novo, daqui a pouco o outro
parava, o outro já fazia a mesma pergunta de novo, sempre daquele
jeito, os piás ficaram apavorados. Daí quando eles começaram a
passar o dedo no L.A.M. assim sabe, que ele tem uma queimadura
assim.
Juíza: Passavam o dedo
no queixo do L.A.M.?
Interrogando: Passava
assim “levanta essa cabeça”. Pra cima, o meu guri bah, pequeno
né.
Juíza: Pelo gesto que o
Sr fez então eles empurravam o queixo do L.A.M.
Interrogando: Ele
abaixava assim e eles pegavam assim, bah pela tudo assim se tu
começar a mexer assim.
Juíza: O que ele tinha
no queixo?
Interrogando: Ele
queimou. Eles começavam a apavorar ele, “fala guri, vai falar que
vocês vão apodrecer na cadeia, lá com o Fritz, primeiro nós vamos
levar vocês lá pra Febem, daí dali vocês vão pra lá, e o teu
irmão mais velho já ta guardadinha a cela pra ele”.
Juíza: E o Sr sabe o
nome desses policiais que diziam isso?
Interrogando: É esse que
ta no...
Juíza: Marcos e Sílvio?
Interrogando: Isto.
Juíza: Quanto tempo os
meninos ficaram prestando depoimento?
Interrogando: Era duas e
meia a hora que nós chegamos, saímos dali era nove e meia. Daí nós
chegamos em casa às dez horas.
Juíza: Além do L.A.M. e
do Oziel quem mais foi ouvido nesse dia?
Interrogando: O Ezequiel.
Juíza: Então ficaram
das duas às nove ouvindo três pessoas?
Interrogando: Três
pessoas. Até o meu mais velho não foi tanto, mas teve que ficar
esperando pra... porque eles pegaram o meu mais velho primeiro.
Juíza: Como é o nome
do mais velho?
Interrogando: Ezequiel. O
Ezequiel é de maior, eles levaram pra outra sala lá, na primeira
ali, daí prensaram de dois ali no canto, e daí enfiavam o braço
nele ali pra ele falar, daí o piá dizendo que não, nunca fez nada.
Juíza: A sua esposa
estava junto?
Interrogando: Não.
Juíza: Mais alguém
presenciou esse fato Sr Isaías?
Interrogando: Estavam
esses dois policiais e a mulher aquele que tava ali só, só nós
três que tava.
Juíza: E aí quando é
que o Sr decidiu que iria denunciar esse fato na corregedoria?
Interrogando: Eu saí
dali, eles levaram nós até em casa.
Juíza: A polícia?
Interrogando: A polícia
mesmo. Mas eu não podia nem sentar mais, fiquei apavorado, e eu
sofro da coluna, não podia parar sentado em pé quase. Porque eu me
apavorei, me atacou os nervos também, a gente naquele estado (...),
daí eu fui e eles iam indo na estrada assim, sempre dizendo: “bah
gurizada, vocês tão ferrados”.
Juíza: E quando é que
o Sr resolveu que ia denunciá-los na corregedoria?
Interrogando: Daí eu fui
pra casa, não dormi a noite toda, daí eu pensei, tem que ter lei,
tem lei pra nós tem que ter lei pra eles também, daí eu pensei
peguei e liguei pro meu irmão, esperei ele chegar da firma, liguei,
“bah Zé, eu não entendo isso aí mas tu tem que se informar”.
Daí levantei cedo “o que eu vou fazer”, eu fiquei agoniado, nem
eu nunca dei um tapa na orelha do meu filho daquele jeito. Liguei pra
ele de novo ele disse “não, me informei com fulano aí que tem lá
em Porto Alegre a tal de diretoria lá, vai lá”. Eu disse como que
eu vou ir cara, eu não tenho como. “Mas não tem ninguém que
conhece Porto Alegre”? Eu pensei vou falar pro Cristiano, o
Cristiano disse olha, eu tenho como levar, mas eu pego e peço pro
meu primo levar nós então, mas tem que arrumar o dinheiro pra
gasolina.
Juíza: Quem é o primo
do Cristiano?
Interrogando: Ele mora lá
em Parobé.
Juíza: Como é o nome
dele?
Interrogando: O nome dele
bem certo eu não sei mesmo.
Juíza: Mas o Cristiano
não foi com vocês na Corregedoria?
Interrogando: Sim, foi,
mas daí ele foi com o carro do (...).
Juíza: Do primo dele?
Interrogando: Do primo
dele, porque ele não tem carro, não tinha.
Juíza: E que lhe
atendeu lá na Corregedoria?
Interrogando: Ali foi uma
mulher.
Juíza: E aí o Sr
contou pra ela essa história que o Sr está me contando hoje?
Interrogando: Sim.
Juíza: E o que ela lhe
disse?
Interrogando: Ela me
explicou, “olha, que isso aí, não é bem fazer isso aí”. Mas
eu disse não, eu vim aqui, to falando a verdade, eu não vim aqui
pra mentir.
Juíza: Quando ela lhe
disse “não é bom”, “não é bem fazer isso aí” ela estava
se referindo a que?
Interrogando: Pensando
que eu ia mentir de certo, chegar lá acusar um policial, daí ela
achou assim meio ruim.
Juíza: E o Sr falou pra
ela que os seus filhos poderiam depor?
Interrogando: Falei.
Juíza: O Sr conhece
então esse dois policiais. O Sr tem alguma coisa contra eles?
Interrogando: Não, eu
não tenho nada contra eles.
Juíza: O Delegado
Juliano Ferreira o Sr conhece?
Interrogando: Eu só vi
ele quando chegamos ali e depois desapareceu, não vi mais.
Juíza: Não tem nada
contra ele?
Interrogando: Não tenho.
Juíza: Rosi Aparecida
Rosa dos Santos o Sr conhece?
Interrogando: Não. Pode
ser que eu conheço, mas assim não me lembro.
Juíza: E o Cristiano
Fedrigo o Sr tem alguma coisa contra ele?
Interrogando: Não.
Juíza: O Sr quer dizer
mais alguma coisa em sua defesa?
Interrogando: Quero sim,
porque eu não posso mentir, tenho que contar a verdade, eu não Isa
sair daqui de Taquara pra lá.
Juíza: O Dr Márcio vai
fazer a sua defesa?
Interrogando: Sim.
Juíza: Pelo Ministério
Público?
Ministério Público: O
Sr permaneceu na sala onde foram tomados os depoimentos dos seus
filhos durante todo o tempo?
Interrogando: Sim.
Ministério Público: O
Sr já tinha recebido alguma noticia de que seus filhos teriam sido
vítimas de abuso sexual antes?
Interrogando: Não.
Ministério Público:
Ficou sabendo na Delegacia de Polícia?
Interrogando: Sim.
Ministério Público: Em
Porto Alegre?
Interrogando: Aqui.
Ministério Público: Na
Delegacia de Taquara?
Interrogando: De Taquara.
Ministério Público:
Foram os policiais de Porto Alegre que vieram conversar com o Sr?
Interrogando: Sim.
Ministério Público: E o
Sr não ficou surpreso, não ficou nervoso pelo fato de saber que
seus filhos tinham sido vítimas de abuso sexual?
Interrogando: Fiquei
mesmo.
Ministério Público: E o
Sr não manifestou essa sua preocupação, não ficou nervoso para os
policiais?
Interrogando: Não fiquei
nervoso só porque eles falaram sobre meus filhos, uma coisa que não
aconteceu, que os piás certo que confirmaram que nunca fez isto.
Ministério Público: Mas
quando o Sr ficou sabendo disto que teria ocorrido pelos policiais o
Sr não chorou, não ficou nervoso na Delegacia?
Interrogando: Fiquei
nervoso mesmo, bah, Deus o livre.
Ministério Público: E o
Sr não tentou averiguar porque que veio essa denúncia de abuso
contra seus filhos? O Sr não se preocupou em sabe de onde surgiu
essa denúncia de abuso e porque?
Interrogando: Sim, tentei
mas, como é que a gente vai saber, de onde que saiu isso, só se
ouvir da polícia ali que deu esse (...).
Ministério Público:
Porque o Sr se preocupou tanto em buscar no Ministério Público aqui
em Taquara, em procurar a corregedoria da polícia e não se
preocupou em saber se efetivamente haviam ocorrido esses abusos?
Interrogando: Não sim,
depois que aconteceu eu fui, fui ver, verificar e coisa, mas não.
Ministério Público: O
que o Sr fez pra ver?
Interrogando: Eu andei
perguntando pros outros guris também, pra ver né, pros outros
vizinhos pra ver que foi intimado, fui atrás pra ver se era verdade,
se aconteceu com eles também, disse não, nunca aconteceu nada
então.
Ministério Público: Mas
seus filhos freqüentavam a casa do Frederick?
Interrogando: Só pra
fazer a limpeza, iam junto comigo ainda, quando eu trabalhava na
colina.
Ministério Público:
Freqüentavam o clube naturista?
Interrogando: Não. Eu
trabalhava lá dentro, faz 16 meses que eu parei de trabalhar.
Ministério Público: O
Oziel chegou a admitir para os policiais que teria sido abusado.
Interrogando: Não.
Ministério Público:
Sim.
Interrogando: Não, isso
não. Abusado?
Ministério Público: O
Sr mesmo disse isso, que ele teria admitido e depois voltou atrás.
Interrogando: Não foi
abusado, ele admitiu da hora que ele levou os tapas ali ele falou que
o veio masturbava eles, isso aí.
Ministério Público: Que
tapas que o Oziel levou?
Interrogando: Na cabeça
e na orelha.
Ministério Público:
Depois que o Oziel teria levado esses tapas ele admitiu ter sido
abusado?
Interrogando: Aquela hora
que ele falou sim, que o velho masturbava eles, o Oziel no caso, daí
eles deram uma aliviada pro piá, e liberam nós, depois que o piá
disse isso aí daí eles liberaram o piá.
Ministério Público: Sr
Isaías porque o Sr procurou o Cristiano pra relatar esses fatos?
Interrogando: Porque é
mais amigo, de vez em quando a gente ia jogar bola com eles, eu não
jogava bola mas eu ia junto com eles no campo que eles iam todo
sábado jogar bola.
Ministério Público: Mas
o Cristiano não seria filho adotivo do Fritz?
Interrogando: Não.
Ministério Público:
Qual é o vínculo do Cristiano com o Frederick?
Interrogando: A mãe dele
que trabalha na casa do Frederick.
Ministério Público:
Nada mais.
Juíza: Pela Defesa?
Defesa: Sr Isaías após
o registro da ocorrência na corregedoria o Sr ou os seus filhos
foram intimados a prestar declarações nessa investigação lá da
Corregedoria de Porto Alegre?
Interrogando: Mais uma
vez? Não nunca.
Defesa: Quando dessas
agressões, essas ameaças o Sr referiu na delegacia de polícia qual
foi a sua reação naquele momento Sr Isaías?
Interrogando: Aqui eu
fiquei constrangido demais, eu fiquei apavorado.
Defesa: O Sr se sentiu
ameaçado também pelos policiais?
Interrogando: Olha, a
hora que o Oziel pediu pra ir tomar água e ir no banheiro porque na
hora do tapa daí eu quis falar assim eles mandaram eu calar a boca.
Defesa: O Sr leu ou
alguém leu pro Sr os depoimentos prestados pelos seus filhos e o seu
próprio depoimento?
Interrogando: Não.
Defesa: O Sr sabe ler e
escrever perfeitamente?
Interrogando: Nada, nada.
Defesa: Se em algum
momento, antes ou depois dessa oportunidade aí que os seus filhos e
o Sr prestaram depoimento na delegacia de polícia, se em algum
momento seus filhos referiram ao Sr terem sofrido algum abuso sexual?
Interrogando: Não.
Nunca.
Defesa: Nada mais.
Juíza: Nada mais.
(Gravação e
transcrição realizada pela Estagiária Jaciane Fernandes dos Reis).
09 LAUDAS IMPRESSAS, DIA
25/07/08 ÀS 17h20min.
Legenda:
(...) = quando a fala é
inaudível.
... = quando há pausa na
fala, ou simplesmente nada é declarado.
Fonte:
http://www3.tjrs.jus.br/site_php/consulta/download/exibe_doc1g_oracle.php?id_comarca=taquara&ano_criacao=2008&cod_documento=58464&tem_campo_tipo_doc=S
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