Materia na Folha de S. Paulo hoje, 1 de novembro, fala - na capa do jornal, acima da dobra, e na capa do caderno Cotidiano - de Mauro Queiroz, falsemente acusado por policiais de abuso sexual de uma menor em 1959. Cinquenta anos depois, sua familia conseguiu limpar seu nome, com a ajuda da própria vítima, que diz que nunca aconteceu mesmo. Mas a vida do Mauro, e da sua familia, nunca foi a mesma.
A matéria completa, para assinantes, aqui: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0111200906.htmA honra de Mauro
Guarda-civil acusado de se esfregar numa criança em um ônibus é inocentado pela Justiça 50 anos depois
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Meses antes de morrer, vítima de um câncer no intestino, o ex-policial Mauro Henrique Queiroz chorou copiosamente diante do filho. Não pela doença. "Estou lutando contra uma coisa que eu não devo. Me condenaram, mas sou inocente", disse ao filho Amauri, 53.
O ex-policial revelava, ali, um segredo que guardava havia quase 40 anos. Tinha sido condenado, em 10 de julho de 1959, porque, para os juízes, ele passou o pênis no braço de uma menina de 11 anos dentro de um ônibus lotado. Pena: seis meses de detenção, convertidos em liberdade vigiada.
Pela mesma acusação foi expulso da corporação.
Diante do choro do pai, famoso por ser durão, Amauri fez uma promessa.
"Pai, enquanto eu viver, vou lutar para limpar seu nome", afirmou.
Ele conseguiu. Depois de 50 anos, a Justiça admitiu a verdade, mas quase 11 anos depois da morte de Mauro, em 1998, aos 69 anos. A família Queiroz cumpriu a promessa.
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Condenação
A história era tão absurda e os depoimentos tão contraditórios que o juiz de primeira instância João Estevam de Siqueira Júnior absolveu, no início de 1959, o guarda "sob pena de praticar grave erro judiciário".
A Promotoria recorreu. "Só quem não viu nada nos autos foi o juiz, absolvendo o apelado, esquecendo-se de que temos esposas e filhas", escreveu o promotor José Cândido de Oliveira Costa. A tese do promotor foi aceita em segunda instância. Mauro foi condenado por ato obsceno./p>
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Tinha-se o fato novo, e o Tribunal de Justiça anulou o processo. Não por falta de provas, mas por falta de ato criminoso. Mauro voltou ficar com o nome limpo. Agora, a família tenta recuperar com uma outra ação a farda de Mauro que foi tirada, em cerimônia em frente aos colegas, dois dias depois de pegar o mesmo ônibus que Sônia. "Ele morreu quando tiraram a farda. Antes de acontecer isso, ele tocava gaita, dançava. Depois, perdeu toda a graça. Morreu ali", disse a viúva.
Lembrança
Enquanto ouvia o pai narrar toda sua saga, Amauri viu um filme passar em sua cabeça e começou, enfim, a entender porque aquele núcleo da família Queiroz (Maria Aparecida, Amauri e Silvio) sempre foi preterido pelos outros parentes. "Aí, você começa a lembrar das coisas que não conseguia entender: Por que a gente, quando criança, não era chamado para os aniversários? Por que meus primos, na mesma idade, ganhavam presentes [dos parentes] e nós não? Por que os parentes vinham de Barretos [para São Paulo] e não passavam lá em casa? Sabe por quê? Porque, para eles, éramos os filhos do tarado."
absurdo e êrro judiciário que, infelizmente ocorre ainda nos tempos de hoje, por maus profissionais que por preguiça e desleixo não estudam o processo todo, se limitam a ler uma ou duas páginas de um inquérito feito com muitas falhas e por delegados leigos da época!!
ResponderExcluir"A emocionante história da "honra de Mauro", contada por Rogério Pagnan, mostra que a Justiça falha quando tarda.
ResponderExcluirE hoje, onde estão os "colegas" e algozes de Mauro Henrique Queiroz, que viveram os 50 últimos anos escondendo essa vergonha? Que seus nomes venham à tona."
ADILSON ROBERTO GONÇALVES (Lorena, SP)
COMENTÁRIO SOBRE ESTE TEXTO PUBLICADO NA "FOLHA DE SÃO PAULO"
A honra de Mauro
ResponderExcluir""Ele não fez nada", disse Sônia Brasil, hoje com 64 anos, em sua declaração sobre o ex-guarda civil Mauro Henrique Queiroz, condenado injustamente há 50 anos e agora devidamente inocentado da acusação que lhe forjaram (Cotidiano, 1º/11).
A reportagem nos revela quantas injustiças são cometidas neste país com pessoas honestas. E este caso serve como exemplo para todos nós e, principalmente, para as nossas autoridades.
Agora cabe à corporação reconduzir o guarda civil Mauro Henrique Queiroz ao seu posto mesmo que esteja morto. Sua família não pode continuar sofrendo com a condenação injusta."
RUBENS CALDARI , presidente da Associação Comunitária do Bairro São Dimas (São Paulo, SP)
COMENTÁRIO SOBRE ESTE CASO PUBLICADO NO PAINEL DO LEITOR DA FOLHA DE SÃO PAULO