Dr. André Herdy já abriu seu novo consultório no centro de Taquara. Fica no mesmo prédio que abriga a Biblioteca Municipal e a LAN house em que costumo trabalhar quando estou em Taquara.
O consultório já estava pronto em maio. Foi Cleci que encontrou nos classificados uma dentista acompanhando o marido para o exterior, que estava vendendo suas instalações recém-inauguradas. O consultório é amplo, limpo, arejado, e moderno.
Tem outra coisa que destaca o consultório dos outros: tem alvará e está em conformidade com todos os códigos municipais. Dr. André me explicou que como ele está visado pelo Fórum de Taquara, ele precisa ter tudo rigorosamente em ordem, ainda que seja o único dentista na cidade que assim opera. Passei lá na minha última visita para Taquara, e encontrei com ele Bruno, o fiscal da prefeitura, que já conheci de outras carnavais.
Cleci está ajudando no consultório, e está mostrando o ânimo que entendo que era dela que antigamente. O carro quebrou, e sua resposta não foi de reclamar: pegou o ônibus e utilizou a oportunidade para distribuir folhetins do consultório.
Freguesia entre conhecidos
Dr. André está tentando construir uma freguesia em Taquara. Seria uma falta de ética tentar aliciar seus clientes do tempo em que ele trabalhava com Dra. Rosane, ele me explicou, ainda que nada impede que ele aceitasse os que lhe procurasse. Folhetas são uma das maneiras que ele utilize.
E as crianças ajudados pelo ONG New Faces estão vindo para o consultório de Dr. André, que está providenciando tratamento gratuito.
Outro grupo de onde estão vindo clientes são da Brigada Militar. O quartel fica ao lado da clínica onde trabalhava, e muitos já o conhecia e estavam bem contentes com seu tratamento. Também estão vindo pessoal do SUSEPE. Quer dizer, guardas do presídio estadual de Taquara, onde Dr. André ficou uns meses.
Dr. André me conta também, que no pequeno prédio onde ele e a Cleci alugaram um apartamento, um dos seus vizinhos agora é o vice-diretor do presidio. Que Dr. André considere um amigo. É alguém que já sabia que os acusados do caso Colina do Sol eram inocentes (a história não parava em pé) antes mesmo de saber que Dr. André fosse um deles.
A prefeitura de Taquara tem um ônibus equipado como ambulatório dentário, que sempre estava disponível para ir ao presídio estadual, mas nunca tinha ninguém que aceitava trabalhar lá. Dr. André está disposto. Agora há alguém para cuidar dos dentes dos detentos.
O medida de um homem
Como que é que Dr. André, injustamente preso durante 13 meses, pode agora dar bom-dia para o vice-diretor do presidio? Como que é que os mesmos homens que o mantiverem encarcerado podem se sentar na sua cadeira, deixar que ele aplica anestesia, e ouvir o barulho daquele máquina? Como ele poderia voltar tranqüilamente para um lugar em que com certeza passou umas das piores horas da sua vida?
Há no mundo moderno - realmente, sempre houve - uma tendência de julgar pessoas pelos seus posses, pela sua posição, pelo seu prestígio. Para medir o valor de um homem, é preciso ver como ele fica quando tudo isso é tirado dele, e resta somente o homem essencial.
Preso, André Herdy foi pesado por o que ele é, tanto por aqueles que estavam fora dos grades, e aqueles que estavam dentro. André foi sustentado pelo forte fé religioso, pela ciência da sua inocência, pelo amor da sua família. Visitei ele no dezembro do ano passado, e a visita foi breve - estava quase na hora do ensaio do coro dos presos que ele tinha organizado ai dentro, que estavam preparando para o concerto de natal, quando os filhos dos presos iam visitar.
Como um cambista de antigamente testava uma moeda - pesado na balança, batido para ouvir o som, e com ácido, André Herdy foi testado. E passou. É de metal puro, moeda que qualquer um aceite.
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