terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sirineu Pedro da Silva, 1965-2012

Sirineu Pedro da Silva morreu segunda-feria de manhã depois de um mês de internação no Hospital Conceição em Porto Alegre, de câncer. Ele deixa sua esposa Dinamar, oito filhos, e netos. O enterro será hoje as 10:00 no cemitério de Morro da Pedra.

Eu vi Sirineu pela última vez em novembro. Foi ele, realmente, que me viu, em frente da Cafeteria Taquara. Subi com ele para o Hospital Bom Jesus, onde um neto estava internado, e conversamos sentados em frente do hospital.

Eu não sabia que ele estava doente. Muitos dos trabalhadores das pedreiras de Morro da Pedra sofrem de pulmão, devido à poeira criado pelas serras elétricos, e ciente disso Sirineu tinha moderado seus hábitos já faz uns anos. Mas seu irmão Edegar falou para Cleci, que a moléstia começou no cérebro, chegando somente depois nos pulmões. Tirando sua vida em etapas.

Relato de Dinamar

Conversei faz duas semanas com Dinamar, que atendeu o celular de Sirineu. Douglas tinha ouvido de Morro da Pedra que Sirineu estava no hospital, e de California o recado chegou aqui. A casa de Sirineu tem poucos cômodos e muitos filhos, uns bastante pequenos. Ela disse, também para estes ouvidos, que era "uma infecção no pulmão, e algo mais", e que tinha entregado ele nas mãos de Deus.

Homem teimoso

Nestas horas, pensamos na natureza do homem. Da alma, para os de fé; o intelecto e a personalidade, para os que acreditam somente no parte corporal. Algo que ataca o cérebro vai reduzindo o homem.

Não entendi na hora tudo que a Dinamar falou em meias-palavras, para não assustar os pequenos. Disse que tinha alguém da família lá, todos os dias, "ainda que não há necessidade, eles o cuidam bem, o mantém confortável." Queira dizer, entendo agora, que ele não já não estava consciente do que passava.

Mas ainda assim, alimentado de sonda e sujeito a outras indignidades, precisavam manter-lo amarrado a cama. Se não, arrancava. Muito de Sirineu já não lá estava, mas o personalidade teimoso ficava. Ou se prefere, a alma.

Sirineu foi rico em filhos

Fritz Louderback lembre Sirineu

Eu tentei visitar a família de Sirineu sempre que passei pelo Morro da Pedra. A casa na Estrada da Grota, ao lado do maior das pedreiras da região, era passagem obrigatório. Uma manha, passei cedo, e acabaram de matar um porco. Na volta, a noite, estavam fervendo a banha: Sirineu tinha desmontado o porco por inteiro.

Mas Fritz conheceu Sirineu e sua família durante anos, em tempos bons, e o conheceu melhor do que eu. Pediu uma lembrança de Sirineu, que aqui traduzo:

 

Eu estava dirigindo meu caminhonete de volta do Dr. Everett, em Novo Hamburgo. Nedy, Cristiano, Roberto e Barbara estavam comigo. Nós tínhamos acabado de passar pelo centro de Morro da Pedra, viramos à direita para a Estrada da Grota, uma estrada que sobe um aclive íngreme e passa primeiro a casa de Siineu, e depois a maior pedreira de Morro da Pedra, chegando eventualmente à nossa casa.

Passando pela casa de Sirineu, havia cinco ou seis de seus filhos. Reconhecendo Cristiano em nosso caminhonete, eles começaram a saltar para cima e para baixo, gritando seu nome ... "Cristiano, Cristiano, Cristiano!". Eu não poderia deixar de parar para saber o que era aquele barulho. Bem, foi sobre futebol, os meninos queriam saber quando Cristiano e sua equipe iriam jogar novamente.

De repente apareceu um homem alto, bem cuidado, e bonito montando sua motocicleta preta e prateado ... a atenção dos meninos, não só desviou de Cristiano, mas sua excitação aumentou exponencialmente à medida que celebraram o retorno de seu pai, de um dia de trabalho na pedreira.

Daquele dia em diante eu pensei Sirineu primeiro como um pai forte, um homem que colocou sua família antes de si mesmo, um homem que, quando ele estava ao lado da sua esposa, orgulhosamente disse a todos que quisessem ouvir que os filhos eram dela para cuidar. Mas a realidade era que este casal foram uma equipe.

As pessoas podem ter enxergado eles como pobres, devido aos baixos salários que Sirineu recebeu das pedreiras, mas todos que conheciam Sirineu, sabiam que ele pensava de si como rico aos olhos de seu Deus, ele era um homem que, generosamente, espalhava a sua atenção e os frutos do seu trabalho, seu tempo e suas energias à sua prole de oito, e por esta oportunidade que ele sempre me disse que seu Deus o fez rico, pois para Sirineu sua família era tudo e isso fez dele uma inspiração para os seus vizinhos e da comunidade pelo qual todos sentirão sua falta!

E aqui na Califórnia, milhares de quilômetros de Morro da Pedra, são três pessoas que sempre sentirão a falta de seu amigo Sirineu: Barbara, Douglas e eu.

 

Sócio da Colina do Sol

O pai de Sirineu, Olívio da Silva, foi o dono do maior parte das terras onde agora fica a Colina do Sol. Terras agriculturais pobres, de pouco valor na época. Ele recebeu um título de Socio Patrimonial de Silvio Levy, para que seus filhos poderiam aproveitar a área de lazer. Foram sujeitos à aplicação seletiva de regras, de regras escritas especificamente para barrar os jovens de Morro da Pedra, e Sirineu foi barrado por voto - curiosamente, outros sócios denunciados ou até condenados por outros crimes não sofreram sanções - e depois, foi cobrado para custear as guardas que não permitiram seu acesso ao área de qual ele era formalmente um dos donos.

Mas estamos escrevendo não da corja da Colina, mas de Sirineu. Na minha última visita, ele em contou que tinha batido na sua porta um emissário da Colina, com uma conta de mais de mil reais, e um "termo de desistência" do título de sócio. Na sua maneira temerária, falou que ia conversar com eles somente no Fórum, com seu advogado. E os mandou às favas.

Recursou barganha

Conheci Sirineu porque é um dos acusados no caso Colina do Sol. Se não for isso, nunca teria visto o homem.

Conheci Sirineu, e conheci sua família, devido ao caso. Gostei bastante dos filhos dele, e julgar o caracter de um homem dos seus filhos, é mais certeiro do que julgar os filhos baseado no pai.

Resumindo uma vida a um incidente, pode ser uma injustiça. Mas também, sabemos do que um homem é feito não na hora em que tudo vai bem, mas na hora do aperto.

Sirineu Pedro da Silva foi, em muito, um homem simples. Criou oito filhos, e os criou bem. Creio que o orçamento da casa foi sempre apertado, mas adotou um sobrinho, pois o sobrinho precisava. Sabia reduzir um porco ao tudo que a gente encontra aqui na cidade embalado no supermercado, e mais um pouco.

Foi competente dentro do seu mundo, mas em 11 de dezembro de 2007, foi de repente posto num mundo maior. Não era somente a batalhão da policia, ou aquele pessoas de televisão aparecendo de repente neste lado da telhinha. As regras eram outras. Como Dinamar falou, "Me fizeram umas perguntas e dei respostas. Comprei a jornal e lá estavam outras perguntas e outras respostas. Mas lá estava meu nome." Como Alice atravessando o espelho, ele se encontrou num outro mundo. Sua casa humilde saiu na televisão, ele passou dois dias de 12 horas na delegacia em Porto Alegre.

Sem saber da doença de Sirineu, foi ele o primeiro dos pais do que escrevi, varrendo os 37 acusações absurdas que compõem o caso Colina do Sol. Como vimos, não há provas contra Sirineu. Nem indícios há, o que a promotora Dra. Natalia Cagliari usou como tal foi os laudos fajutas da falsa psiquiatra Dra. Heloisa Fischer Meyer, e os que os psiquiatras verdadeiros emitiram, alimentados com informações falsos pela polícia.

A mãe de duas das vítimas, Cleiton e Charles, foi enganada para assinar uma "representação". Seu pai não foi denunciado. Quando, sob tortura, um dos filhos acusou Fritz Louderback, o delegado disse que Isaías era também uma vítima, e não seria indiciada. Acusou o tortura na corregedoria, e foi indiciado e denunciado.

A barganha era claro: quem acusava, escapava de ser acusado. Sirineu poderia ter escapado de ser processado.

O preço, era fazer uma acusação falso contra um homem inocente, traindo um amigo.

Sirineu não fez a barganha. Do que conheci dele, duvidou que ele chegou a considerar. Há coisas que se faz por dinheiro, e coisas que não se faz por preço nenhuma. Há quem entende disso, e quem não entende.

Poucos de nós encontramos o hora de vamos ver, a hora em que podemos escolher entre pagar um preço altíssimo, ou fazer algo que não pode ser feito.

O delegado e a promotora acusaram Sirineu de vender seus filhos por dinheiro. Isso nada nós informa sobre o caracter de Sirineu, mas somente nós informa sobre os caracteres de drs. Juliano e Natália. Pois todos imaginam que os outros fariam, o que eles fariam no seu lugar.

Sirineu morreu. Não é nós dado escolher a hora e a maneira em que morremos, mas podemos escolher como vivemos. Sirineu era um bom pai da sua grande família, e um bom homem na sua pequena comunidade. Sem querer, sem escolher, foi empurrado para o meio de grandes eventos, e manteve seu compasso moral. Insistiu na verdade, e enfrentou a Justiça estadual. Enfrenta agora a Justiça divina. Não há duvido do julgamento.

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